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VAI TER BATATA - DOCE E MANDIOCA NO RU!

 

 


26/09/2015 18h00

 

Txulunh Gakran
Estudante de nutrição na UFSC, Povo Laklãnõ/Xokleng

Esta semana o cardápio será diferenciado, porém nem tanto. A UFSC é palco do maior encontro nacional de estudantes indígenas (ENEI). Para marcar nossa presença neste local preparamos um cardápio "diferenciado", conhecido por todos nós, mas que poucos param para refletir sobre sua procedência, para além os valores nutricionais. O RU também é lugar de reflexão e aprendizado! Alimentar-se é um momento de comunhão entre nós parentes e os espíritos da natureza.

É uma troca de saberes e experiências, é sagrado. Somos grandes conhecedores dos ciclos da natureza e boa parte do que esta nos pratos dos brasileiros diariamente é proveniente das culturas indígenas. Nossos saberes foram banalizados. Um exemplo disso são as apropriações que determinadas culturas tomaram para si, ou até mesmo o isolamento de valores nutricionais, ditando muitas vezes o que é “bom” ou “ruim”, o que deve ou não ser comido. Mas para nós não existe vilão ou mocinho em nosso prato, existe conhecimento, história, valorização das culturas. Vemos isso acontecer por mais de 500 anos, o alimento se tornou uma mercadoria, ignorando o valor histórico e ancestral que ele carrega.

Somos três etnias no estado de Santa Catarina: Guarani, Kaingang e Laklanõ/Xokleng, e somos mais de trezentos povos pelo país. Estamos nas mais diversas universidades, incluindo a UFSC e por isso este é um momento único, em que podemos sim mudar o ambiente de nossa universidade: é hora de pintarmos a UFSC com jenipapo e urucum. É hora de cantar nossas canções! A universidade tem aberto as portas dos fundos para que entremos, o choque cultural que sofremos também é sentido em nossos pratos. Não há uma discussão sobre alimentos e sua carga ancestral, não há respeito com nossas culturas.

Somos obrigados a nos adequar a um sistema produtivista e tratados como estrangeiros em nosso próprio território. Tornamos então o RU, também um referencial em nossas discussões, é uma questão de valorização, de representatividade e respeito a nós, povos originários. (Texto de Txulunh Gakran – estudante de nutrição na UFSC/ Povo Laklãnõ/Xokleng).

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